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Mostrando postagens de abril, 2019

SUSpirando.

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Discurso (d-i-s-c-u-r-s-o) de empatia, disponibilização dos directs para diálogos de pessoas em sofrimento psíquicos, o abandono da cientificidade… São características dos comportamentos apresentados nas redes sociais. Não que a formação acadêmica seja algo que determine sobre quem deve abordar tais questões, acho que todos devem se informar e ler sobre variados assuntos, se atentando as fontes. Para assim criarmos diálogos embasados e críticos. Foto: acervo Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz Abordamos conteúdos ligados à saúde sempre mencionando patologias, com a possível destruição do SUS e os retrocessos na reforma psiquiátrica que afetam diretamente a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), vale lembrarmos que em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde obtemos o conceito de saúde ampliado: “Em sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,

Café da manhã dos perdedores

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Por John Williams B. Pensava na vida certo dia desses¹ e decidi que deveria escrever coisas menos danosas daqui por diante, talvez a ideia de orientar à busca da luz resolva inclusive as vidas relegadas às trevas da ignorância compulsiva, alguém chama ao telefone, melhor não atender, a hora é de pensar nas leituras que ainda preciso fazer, conhecidos virtuais indicam sempre as mesmas obras, todos muito copiosos, isso não me surpreende, afinal os livros da moda tendem a encher as estantes coloridas e cheias de adereços que sempre postam nas suas redes sociais para dizer qualquer a respeito de sua dita inteligência, não sei se funciona bem com quem procura encontrar naquelas lombadas algo realmente que faça sentido, talvez alguns de meus livros não sejam os mais interessantes, creio nisso sim, mas há coisas horripilantes que habitam a mente sem sede da contemporaneidade de leitores, a juventude é vampira, é zumbi, é sempre aquele mesmo tema batido e retorcido nas esquinas e casas,

Essa não é uma crítica à filosofia vegana

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Imagem: @tiagosantannaph /@aylavicc | Foto/reprodução: @ogumsetelancas  Estou dividida entre dizer que não concordo com a romantização do sofrimento, reforçado através da figura de Jesus e sua paixão, fato que alcança o auge nessa semana; e dizer da filhadaputagem que é um vegano combatendo o uso de animais em rituais das religiões e matriz africana. Tudo isso parece distinto e não condensado, mas, na minha cabeça é uma lógica que funciona como uma faca de dois gumes. A gente fala de classe, dominação, direito e silenciamento de uma coisa só. Essa não é uma crítica à filosofia vegana. É um puxão de orelha em uma parcela de veganos que quer reduzir a um mesmo patamar os rituais religiosos - principalmente das religiões de matriz-africana - e a exploração animal capitalista. Uma e outra são distintas e, combater a presença de animais em ritos religiosos é tão violento quanto estimular a industria da carne. Essa não é uma crítica ao processo de ajuntamento e luto dos fieis católic

A verdade só não basta

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Foto: Mídia Ninja (2013) Por Anielson Ribeiro A verdade nunca nos libertou. A experiência das últimas eleições, de 2018, revela muito bem esse fator extremamente deficitário na esquerda (principalmente naquela de berço universitário). Das pessoas que estão lendo isso, no mínimo, a maioria que se identifica com uma militância, se identifica com uma militância estudantil. E é uma das coisas que evidenciam o que há de sintomático em tudo isso. Ora, se empregarmos nossa lógica acadêmica como única ação política decisiva, iremos perder sempre. Na política, a argumentação nunca foi suficiente. Muito menos, análises que enfocam na economia como determinante pra tudo e subestimam a criatividade dos políticos. Não significa, com isso, que devemos adotar os métodos espúrios da direita, como a desinformação e a mentira. Mas é preciso entender que o que nos move não é a razão, mas a força social. Por isso mesmo, tem-se que racionalizar exatamente sobre os sentimentos "irracionais&quo

CORPO-MANICÔMIO

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Se pensarmos nas limitações que são impostas aos corpos, e cito aqui a conjunção física-biológica-psicológica - pois essas dialogam ininterruptamente, compreenderíamos como fazemos desse instrumento de sobrevivência um espaço de lógica manicomial. Podamos os sentidos, as experiências, os sentimentos… Vivemos no dualismo cartesiano, onde as questões ou são da alma ou pertencem à matéria, quando na realidade há uma interação onde muitas vezes não se pode dizer quando uma começa e outra termina. Já na infância, nosso primeiro meio comunicativo é altamente taxado como irritante: o tão famoso choro é sempre estereotipado de birra, é um comportamento aversivo que designa muitas vezes punições, aqui podemos refletir sobre como olhamos para a criança, como agimos verbalmente e quando estamos olhando de fora, voltamos toda revolta à mãe. A primeira mordaça é posta. Choro é fraqueza. Choro deve ser um evento privado. Segure as lágrimas. Ainda nessa fase, quando se é do sexo feminino, as

A DOENÇA DA INTERPRETAÇÃO: A URGÊNCIA DE UM COPO-SEM-ÓRGÃOS

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Por José Barbosa Acredito que o filme Mãe de Darren Aronofsky tenha sido a última grande experiência da doença interpretativa relacionada às produções artísticas. O fenômeno é extremamente simplista. Tão simplista quanto a natureza dos argumentos e fundamentações de seus executores. É irresistível para eles injetar um sentido nas obras de arte e, pior do que isso, injetar um sentido sempre tendencioso e carregado de manobras que visam a autoafirmação e a promoção de seus próprios modelos de vida. A raiz disso está claramente na distorção de princípios básicos que passaram a fundamentar a pós-modernidade e ainda mais a trans-modernidade. A Obra Aberta (1962), de Umberto Eco , fez ecoar no cenário da crítica artística, da semiótica e da teoria da literatura, a possibilidade de que os esquemas de construção semiótica na dimensão da arte eram abertos o suficiente para exigirem de seus receptores a atividade de sua conclusão e de seu devido encerramento. Eco precisou corrigir em

Campanha à não-virtude

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Ilustração de Nana Larsson /@drawaweek Estou tranquilamente convencida de que as coisas das quais tenho construído, problematizado, pensado, serão substituídas e minha produção ou a produção dos que pensam com proximidade ao que penso serão superadas. É para ser assim, pois não escrevo para pessoas do futuro. Me preocupo com a inteireza do agora. As doenças de agora. As questões da mulher que já existe . Também compreendo que não existe nada de novo no que falo, mas há uma novidade histórica na minha história quando percebo que existem possibilidades de convívio e transpassamento saudáveis . E, para tanto, convido todxs de maneira prática, a uma campanha de negação da virtude. Eu não sou uma mulher virtuosa . E preciso partir da definição de Platão de virtude que o cristianismo aderiu mais tarde: eu não me encaixo nesse padrão . Explico. Platão considera como virtude a capacidade de dominar o corpo perante as paixões . Ele separa corpo e alma em duas entidades distintas q

Uma Longa Temporada no Incerto

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Por Anielson Ribeiro Me sinto antigo e turvo. O passado se ergue como uma noite dentro da Noite. Quanto de juventude cabe nesse vórtice e em sua fome infinita a que chamamos memória? Há uma cidade por trás da noite: a cidade dos mortos. Sinto seu olhar colossal a me espreitar. Sinto seu estômago nervoso roncando. Aqui dentro, parece que tudo foi quebrado. Minha linguagem está perdida. Por isso, não há como convocar a ajuda necessária para me fazer entendível. Só quero que saibam que é noite e faz frio lá fora (coisa rara nesse sertão baiano). Eu sei que parece um convite, mas é uma armadilha. Como um gato faminto observa o pássaro. Às três da tarde, recebi uma chamada, lembro que falamos sobre o clima, e era mormaço. Agora essas nuvens e essa brisa fria. Sinto um pigarro. Minha garganta coça. É um turbilhão de frases de emancipação exigindo escarro. Minha laringe é uma estrada ligando-se à cidade dos mortos insepultos dos Palmares, dos Kaiowas, dos realocados e dos trabalhador