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Isso não é um cachimbo

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René Magritte, 1929 O significado de balbúrdia, pelo Aurélio, é confusão, desordem, ruído, barulho. Seus sinônimos são gritaria, algazarra, berreiro. Não tenho intenção de me prolongar por aqui. Tenho a intenção de falar de Magritte. O surrealista tem uma lição a nos ensinar quando joga em nós a diferença entre representação e realidade. Essa diferença pode nos nortear acerca da importância de representação e como ela impacta a nossa realidade. E da nossa responsabilidade quando a gente coloca num mesmo patamar o grito do povo oprimido e o grito do opressor que deseja "metralhar a petralhada do Acre". Tal diferença mostra nossa responsabilidade no número de feminicídos quando a gente propaga pros quatro cantos que não precisa do feminismo, que ele é o contrário do machismo ou quando a gente usa o jargão pronto do "sou feminina, não feminista". Isso não é um cachimbo, é um alerta de cuidado ao não vincular o sensacionalismo do MBL ao dizer que a UPE vai fechar em

SUSpirando.

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Discurso (d-i-s-c-u-r-s-o) de empatia, disponibilização dos directs para diálogos de pessoas em sofrimento psíquicos, o abandono da cientificidade… São características dos comportamentos apresentados nas redes sociais. Não que a formação acadêmica seja algo que determine sobre quem deve abordar tais questões, acho que todos devem se informar e ler sobre variados assuntos, se atentando as fontes. Para assim criarmos diálogos embasados e críticos. Foto: acervo Casa de Oswaldo Cruz/ Fiocruz Abordamos conteúdos ligados à saúde sempre mencionando patologias, com a possível destruição do SUS e os retrocessos na reforma psiquiátrica que afetam diretamente a RAPS (Rede de Atenção Psicossocial), vale lembrarmos que em 1986 ocorreu a 8ª Conferência Nacional de Saúde, onde obtemos o conceito de saúde ampliado: “Em sentido mais abrangente, a saúde é a resultante das condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade,

Café da manhã dos perdedores

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Por John Williams B. Pensava na vida certo dia desses¹ e decidi que deveria escrever coisas menos danosas daqui por diante, talvez a ideia de orientar à busca da luz resolva inclusive as vidas relegadas às trevas da ignorância compulsiva, alguém chama ao telefone, melhor não atender, a hora é de pensar nas leituras que ainda preciso fazer, conhecidos virtuais indicam sempre as mesmas obras, todos muito copiosos, isso não me surpreende, afinal os livros da moda tendem a encher as estantes coloridas e cheias de adereços que sempre postam nas suas redes sociais para dizer qualquer a respeito de sua dita inteligência, não sei se funciona bem com quem procura encontrar naquelas lombadas algo realmente que faça sentido, talvez alguns de meus livros não sejam os mais interessantes, creio nisso sim, mas há coisas horripilantes que habitam a mente sem sede da contemporaneidade de leitores, a juventude é vampira, é zumbi, é sempre aquele mesmo tema batido e retorcido nas esquinas e casas,

Essa não é uma crítica à filosofia vegana

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Imagem: @tiagosantannaph /@aylavicc | Foto/reprodução: @ogumsetelancas  Estou dividida entre dizer que não concordo com a romantização do sofrimento, reforçado através da figura de Jesus e sua paixão, fato que alcança o auge nessa semana; e dizer da filhadaputagem que é um vegano combatendo o uso de animais em rituais das religiões e matriz africana. Tudo isso parece distinto e não condensado, mas, na minha cabeça é uma lógica que funciona como uma faca de dois gumes. A gente fala de classe, dominação, direito e silenciamento de uma coisa só. Essa não é uma crítica à filosofia vegana. É um puxão de orelha em uma parcela de veganos que quer reduzir a um mesmo patamar os rituais religiosos - principalmente das religiões de matriz-africana - e a exploração animal capitalista. Uma e outra são distintas e, combater a presença de animais em ritos religiosos é tão violento quanto estimular a industria da carne. Essa não é uma crítica ao processo de ajuntamento e luto dos fieis católic

A verdade só não basta

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Foto: Mídia Ninja (2013) Por Anielson Ribeiro A verdade nunca nos libertou. A experiência das últimas eleições, de 2018, revela muito bem esse fator extremamente deficitário na esquerda (principalmente naquela de berço universitário). Das pessoas que estão lendo isso, no mínimo, a maioria que se identifica com uma militância, se identifica com uma militância estudantil. E é uma das coisas que evidenciam o que há de sintomático em tudo isso. Ora, se empregarmos nossa lógica acadêmica como única ação política decisiva, iremos perder sempre. Na política, a argumentação nunca foi suficiente. Muito menos, análises que enfocam na economia como determinante pra tudo e subestimam a criatividade dos políticos. Não significa, com isso, que devemos adotar os métodos espúrios da direita, como a desinformação e a mentira. Mas é preciso entender que o que nos move não é a razão, mas a força social. Por isso mesmo, tem-se que racionalizar exatamente sobre os sentimentos "irracionais&quo

CORPO-MANICÔMIO

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Se pensarmos nas limitações que são impostas aos corpos, e cito aqui a conjunção física-biológica-psicológica - pois essas dialogam ininterruptamente, compreenderíamos como fazemos desse instrumento de sobrevivência um espaço de lógica manicomial. Podamos os sentidos, as experiências, os sentimentos… Vivemos no dualismo cartesiano, onde as questões ou são da alma ou pertencem à matéria, quando na realidade há uma interação onde muitas vezes não se pode dizer quando uma começa e outra termina. Já na infância, nosso primeiro meio comunicativo é altamente taxado como irritante: o tão famoso choro é sempre estereotipado de birra, é um comportamento aversivo que designa muitas vezes punições, aqui podemos refletir sobre como olhamos para a criança, como agimos verbalmente e quando estamos olhando de fora, voltamos toda revolta à mãe. A primeira mordaça é posta. Choro é fraqueza. Choro deve ser um evento privado. Segure as lágrimas. Ainda nessa fase, quando se é do sexo feminino, as