Vaidade tropical secreta

Ilustração do próprio autor.
Por John Williams B.
Há tanta vaidade nos trópicos de cá, um número exorbitantemente superior que a rasa e pálida verdade, alguns diriam que estes tempos são o prenúncio do tal apocalipse, alguns creem nisso outros em nada creem e talvez ambos sejam infelizes, ou não. Existem diversas possibilidades para alcançar a felicidade: filho, amor, poder, conhecimento, dinheiro, etc. ainda assim, poucos a possuem integralmente, mesmo numa busca incessante de orgasmos vitais à alma o corpo e a mente envelhecem, adoecem e são desativados, fato. Outrora vi a felicidade em sua representação máxima no brilho de um olhar novo e sabia indubitavelmente que nada, nada mesmo, superaria aquele semblante recém-criado, nascida para me vencer, sempre. As cores do mundo nas cidades indóceis criam anomalias nas centenas de milhares de cabeças estagnadas entre a maldade e o ceticismo, tais monstruosidades surgem para assumir a culpa dos excessos da violência sem motivação real que recentemente foram semeadas em larga escala nos televisores, smartphones e rodas vivas de conversa, distribuindo incontáveis toneladas insossas de lixo possíveis, passíveis inclusive de causar drásticas rupturas em antigas relações afetuosas entre alguns sagrados amigos de infância. A literatura que quero deve refutar rótulos desnecessários, o que realmente deverá importar serão simplesmente o caráter e a simpatia própria de cada um. Cor, gênero, escolha, profissão, ideal, religião, não-religião ou apelo político não deveriam ser aceitos como  pré-requisito para nada, são dados desnecessários, são importantes, mas não fatais. Outrora sonhei um mundo melhorado, onde as pessoas simplesmente sorriam e amavam, amavam-se todas, indiferentes com as escolhas dos outros, literalmente cuidavam das vidas do outro, havia amor real. Foi um sonho perfeito e único. A política de massa satisfaz parceladamente seus seguidores, em tempos de festas toda pompa para os estrangeiros, os ditos protetores proporcionam cenas lastimáveis de repreensão abusiva do uso da covardia multiplicada da atuação em grupos, pessoas muito mudadas depois de longas doses diárias de descarga de maldade no coração, as oligarquias agora ofertam a segurança como único direito plausível de questionamento, os brutos que não amam aceitam fácil esse acordo, quem discorda fica à margem, refugiado, exilado, sodomizado e dizimado das páginas amareladas da tal história democrática do país. Crianças aliciadas ao militarismo autoritário e absurdamente responsivo, sim dá resultado, números, subtrações e multiplicações que os convém, porém tantos sonhos são dizimados para alcançar as verdades absolutas que doutrinariamente ainda são incapazes de converter multidão em comunidade. A cidade entre as sombras está à deriva e os últimos marinheiros preocupam-se somente em encher a cara e vomitar suas canalhices em colos sem proteção, alguns ordinariamente socam nossas palavras de paz, talvez por sermos os seres negativos nesse imenso pântano amargo infestado de falsos positivos. A palavra que perpetuaremos será multicor, assexuada, apolítica, andrógina, letrada, vândala, vacinada, amável, simplória, adornada, secreta, odiável, dúbia, dupla, dama, encenada, um toque refinado das condições mínimas de auto imunização racional nesta decadente arena entupida com tantos gladiadores acéfalos perdidos em labirintos cortantes e impotentes. A cidade reluta e nós espiamos entre as cortinas negras de nossas estantes de livros e discos e cartas de confissão e beijos arrependidos, partimos sonâmbulos em nossas cavalgadas soturnas do suprassumo das escolhas mais sacanas de sempre.
A noite é um convite aos estranhos e ela linda toda vida.

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